Resenha A Era dos Extremos
Eric Hobsbawn
O que torna particularmente interessante “A Era dos Extremos” é o fato de que o historiador efetivamente vivenciou boa parte dos eventos históricos narrados. Certamente, um historiador deve buscar em suas análises a impessoalidade, sem com isso criar ilusões acerca de uma suposta “neutralidade” ou “imparcialidade absoluta”. O fato do historiador ter vivenciado e se apropriado de eventos pessoais que remetem à sua memória particular certamente enriquece o vasto panorama histórico ilustrado em “A era dos Extremos”.
A memória pessoal do historiador enriquece a narrativa histórica na medida em que ilustra a percepção das pessoas envolvidas em dada circunstância histórica, àquele momento da história: da euforia engendrada pelo estado de bem estar durante a Era de Ouro do pós guerra ao mundo marcado pelas incertezas políticas e pelo enfraquecimento dos estados nacionais na era de incertezas correspondente às últimas décadas do séc. XX.
A impressão que dá ao ler “A Era dos Extremos” é a de estarmos à frente de uma tela de cinema em que, numa impressionante velocidade, os mais diversos fatos vão se intercalando, da revolução russa à propaganda ideológica anti-marxista nos EUA, da descolinização da África às guerrilhas na América Latina, do Arpaitheit na África do Sul aos conflitos étnicos das antigas repúblicas socialistas. A sensação é a de que a história do século XX avançava como numa corrida sucessiva de eventos pouco previsíveis, como o Crash da Bolsa de 1929. O mais impressionante é que, mesmo havendo-se de reconhecer que a direção do movimento histórico do período analisado diz respeito fundamentalmente no desenvolvimento da economia mundial capitalista mais os desdobramentos do mundo soviético, Hobsbawm não ouvida do assim chamado terceiro mundo e apresenta muitas informações econômicas, demográficas, sociais, políticas e etc., não só do centro, mas da periferia do sistema: América Latina, África, Oriente Médio e Sudeste