Resenha A capital federal - de Arthur Azevedo
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Quando eu morrer, não deixarei meu pobre nome ligado a nenhum livro, ninguém citará um verso meu, uma frase que me saísse do cérebro; mas com certeza hão de dizer: "Ele amava o teatro", e este epitáfio moral é bastante, creiam, para a minha bem-aventurança eterna.
Arthur Azevedo - 1903
O TEATRO:
Muitas posições foram colocadas quanto à situação da cena teatral brasileira nos últimos decênios do século XIX. De um lado, escritores e intelectuais criticam intensamente os rumos que o teatro segue : ausência de literatura dramática suprimida pela excessiva preocupação com a concepção plástica do espetáculo, afastando assim a possibilidade do chamado teatro sério. De outro, empresários e artistas tentam viabilizar financeiramente a produção teatral, incorporando modelos de forte apelo popular. De origem européia, a comédia realista, que se apresentava na dramaturgia de Alexandre Dumas Filho ("A Dama das Camélias", "O Mundo Equívoco") e Théodore Barière ("Os Parienses") - entre outros, chega ao Brasil com a criação do Teatro Ginásio Dramático, em 1855 - uma companhia fixa, e desperta o interesse de uma platéia selecionada a qual não agrada mais os melodramas românticos. Paralelo a esse teatro com preocupações literárias, que só conseguia êxito com montagens estrangeiras, surgia no Rio de Janeiro a casa de espetáculos Alcazar, onde formas de teatro popular integravam um conteúdo que combinava o cômico e o erótico. Combatidos pela elite cultural, esses espetáculos, geralmente operetas francesas e comédias populares, que utilizavam recursos de textos baseados na malícia e seus derivados, foram considerados como a causa da decadência do teatro brasileiro. Machado de Assis, José de Alencar, Joaquim Manuel de Macedo, como vários outros intelectuais, colocam-se contrários e lamentam o grande sucesso que esses gêneros teatrais obtinham e o malogro do teatro "sério", que já tivera expressão na