Resenha os sertoes
Euclides da Cunha se formou em engenharia militar na Escola Militar da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, depois em Ciências Naturais na Escola Superior de Guerra e seguiu carreira militar. Além disso, já havia escrito artigos e dado contribuições jornalísticas, de conteúdo fortemente político, quando foi enviado para o interior da Bahia, no sertão nordestino, pelo jornal O Estado de S. Paulo como correspondente da campanha militar no arraial de Canudos.
O autor se formou politicamente em um ambiente de ideias positivistas e republicanas. Benjamin Constant, positivista e, um dos líderes do golpe de proclamação da República, foi seu professor de Cálculo. A primeira sessão do livro, A Terra, segue princípios positivistas. A segunda, O Homem, utiliza teorias naturalistas e deterministas para explicar a ação do meio na fase inicial da formação das raças, a gênese dos mestiços. A princípio a descrição da ‘raça sertaneja’ aparenta estar carregada de preconceito, em uma tentativa de explicar a inferioridade destes mestiços comparada a superioridade da raça branca, daqueles dos dominantes e civilizados republicanos. No entanto, ao final da leitura é possível compreender que na verdade o autor faz complexas críticas àqueles tidos como evoluídos.
O conhecimento científico da formação em engenharia e ciências naturais contribuiu para a descrição minuciosa dos fatores ambientais e das condições geofísicas do Sertão nordestino, relacionando o cenário inóspito com a força do povo que ali habitava. A combinação do olhar científico com a escrita particular do autor atribuiu forma literária ao estudo cientifico. Na terceira sessão, A Luta, ao narrar o conflito entre o progresso e o atraso, Euclides esclarece que a comunidade de Canudos não se tratava de um reduto de revoltosos como os republicanos difundiam para o resto da população, a fim de evitar que a atitude dos sertanejos de negar a dominação que refletia a miséria servisse de