Resenha Only Lovers Left Alive
Jarmusch, uma das mais proeminentes figuras do cinema independente americano, se aventura numa história de vampiros. Parte da cultura pop há várias décadas, nos moldes propostos por Bram Stoker em sua obra “Drácula”, mas há séculos parte do folclore do Leste Europeu, os sanguessugas estavam desgastados pela saga “Crepúsculo” e seu séquito de obras semelhantes, um sucesso apenas entre histriônicas meninas pré-púberes.
Adam e Eve são um casal de vampiros; como pessoas comum, eles conversam pela internet e dizem que se amam, mesmo depois de séculos. Adam vive em Detroit, Eve no Marrocos. Para se encontrar, tem que enfrentar longas horas em voos noturnos. Para beber sangue, subornam hospitais e bancos de sangue, evitando ao máximo morder seres humanos, preocupam-se no que fazer com o corpo, como assassinos comuns que tem que se livrar da prova do seu ato.
Jarmusch faz um filme minimalista, mostrando sem tanto glamour a vida dos vampiros. A direção de arte é impecável, os figurinos são as mesmo tempo sóbrios e cool, adjetivos que podem ser aplicados ao filme como um todo. A trilha sonora é precisa, e as músicas complementam a estética do filme, como em outros filmes de Jarmusch, que também transita na cena da música independente.
Jarmusch brinca com referências a todo o momento. Um dos vampiros mais velhos teria sido quem na verdade escreveu as peças atribuídas a Shakespeare. Adam conta suas aventuras com Lorde Byron e Tesla. Além disso é músico, e tem uma legião de fãs que o admiram, apesar de/por ele ser recluso. A cidade também é um personagem importante, Detroit é uma cidade decadente, um retrato da crise e da falência do sonho americano, e a câmera passeia por casas abandonadas, com madeiras nas janelas. A meu ver, Jarmusch é um cineasta perspicaz e inteligente, que sabe como poucos tecer comentários sobre a vida contemporânea pós-moderna: autoindulgente, depressiva, carente de propósito, frustrante, superficial.
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