Resenha do livro Eles Não Usam Black-tie
Escrita por Gianfrancesco Guarnieri para o Teatro de Arena em 1958, a história narrada em Eles não usam Black-tie se passa em uma favela durante os anos 50. A narrativa tem como tema central a greve dos operários, mas adota como pano de fundo reflexões universais sobre a fragilidade e os conflitos humanos. De fato, a temática não é política, muito menos panfletária. O autor discorre, na verdade, sobre relações de amor, solidariedade e esperança diante dos percalços de uma vida miserável.
A obra conta a história do conflito entre pai e filho com posições ideológicas e morais completamente opostas, o que dá uma tônica dramática ao texto. O pai, Otávio, é um operário de carreira, sonhador, idealista, leitor de autores socialistas e revolucionário convicto. Forte e corajoso, assumiu a liderança várias vezes entre seus companheiros e foi preso em diversas oportunidades, ganhando destaque entre seus colegas e transformando-se em um dos líderes do movimento grevista. Já o filho, Tião, em razão das prisões do pai, foi criado pelos padrinhos longe do morro, sem convívio com o mundo de luta e reivindicações da classe operária. Mais tarde, voltou a morar com seus pais na favela, onde viveu os maiores conflitos de sua vida.
Tudo começa em uma noite de chuva, quando Maria, namorada de Tião e sua companheira de trabalho, lhe conta que está grávida. Por esse motivo, eles marcam o noivado para dali dez dias e o casamento para pouco tempo depois.
As coisas parecem ir razoavelmente bem: Otávio está solto e a família vai se arranjando; Tião e Maria vão se casar, mesmo com as dificuldades. Mas a exploração continua, o arrocho prossegue e a perseguição às lideranças é constante.
Estoura a greve. Otávio está no piquete, megafone na mão. Tião, porém, entra para trabalhar e, aos berros, incentiva os demais a furar a greve. Ao contrário do pai, Tião considera a greve uma utopia, uma luta inglória sem grandes conquistas para os trabalhadores. Além disso, está mais preocupado