resenha do filme Queimadas (Gillo Potencorvo, 1969)
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Resenha crítica do filme Queimada (Gillo Potencorvo, 1969)O filme em questão explicita temas recorrentes da História da Escravidão. À exemplo da grande pedra branca onde sepultaram escravizados que morreram durante a travessia (Cemitério Branco dos Negros); o extermínio dos nativos e a “importação” de mão-de-obra para as lavouras de cana-de-açúcar; estratificação social composta por uma minoria branca e rica no poder, e uma maioria escravizada negra. Ou seja, configurações sócio-históricas comuns as Ilhas do Caribe. Para além, o central no enredo do filme é as táticas e estratégias usadas pelo império inglês para alcançar objetivos políticos/econômicos. Como o império pioneiro no capitalismo industrial, que ansiava por portos abertos e mercado consumidor, interveio com a articulação de guerra civil na ilha Queimada. Pôs o ‘povo’ contra os ‘carrascos’ portugueses, e como num estereotipo de revolução burguesa, tentou encimar a elite local ao posto do governo. Vê-se na sequencia de cenas onde a personagem José Dolores tenta negociar com a elite local a constituição e posteriormente a resolução do problema do açúcar que apodrecia no porto. Ainda sobre a sequência de cenas supracitadas, outra questão tematizada no filme reflete o ideal do império inglês: civilização e liberdade. Estas palavras têm no contexto do filme o sentido branco, racionalista e capitalista. Para ser civilizado, o povo de Queimada precisa ser controlado pela elite branca, e para serem livres precisam ser explorados pelo trabalho assalariado. Motivo da guerra civil não terminar depois da expulsão dos portugueses. A própria elite local é preterida pela companhia de açúcar inglesa. A fala brilhante da personagem José Dolores para a personagem William Walker, no final do filme, resume este questionamento: “A civilização pertence aos brancos. Mas que civilização e até quando?”.