Resenha de "O fio e os rastros", de Carlo Ginzburg
Letras, 2007, 454p.*
Diogo da Silva Roiz
Doutorando em História da Universidade Federal do Paraná
Rua Tibagi, n. 404, Edifcio Aruanã, ap. 100, Centro, Cep. 80060-110
Curitiba/PR.
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O labirinto da realidade, os princípios da História e as regras da historiografia Do labirinto de que nos fala o mito (em que Teseu recebe de Ariadne um fio que o orienta pelo labirinto, onde encontrou e matou o minotauro) aos labirintos da realidade, que nos conduz a História e a sua escrita (em função da condição sempre fragmentária dos documentos e dos relatos), as distâncias (a)parecem, até certo ponto, intransponíveis para se determinar o princípio de realidade que deu base e originou cada uma daquelas diferentes narrativas (míticas e históricas). Mas essa condição de distanciamento entre o mito e a história talvez seja apenas aparente. É o que indicou Georges
Balandier, em seu livro O dédalo, ao avaliar o processo de elaboração e manutenção de um mito no tempo e interpretar as mudanças drásticas, rápidas e sutis das sociedades (em especial, as contemporâneas), que lhe foi ensejada por meio da análise do mito do labirinto, não deixando de demonstrar as relações e as trocas complexas que se estabeleceriam entre o mito e a história ao longo do tempo. Sem ser indiferente a essa questão,
Carlo Ginzburg se pautou no discurso do mito do labirinto, ao apreender a rica metáfora do “fio do relato, que ajuda a nos orientarmos no labirinto da realidade” (p.7), e sua relação com os infindáveis rastros, que as sociedades do passado nos legam em formas (definidas como) documentais. Nessa relação, entre os fios do relato e os rastros do passado, que os historiadores
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Resenha recebida em: 06/04/2009. Aprovada em 10/05/2009.
VARIA HISTORIA, Belo Horizonte, vol. 25, nº 41: p.335-344, jan/jun 2009