Resenha da obra "Maomé - Uma biografia do Profeta", de Karen Armstrong
Antes de mais nada, um exercício de imaginação. Veja, em sua mente, a seguinte cena: Marty McFly, câmera em mãos e olhos arregalados, assiste seu amigo Dr. Brown falar a respeito de sua iminente viagem rumo ao passado. O cientista começa a entrar no DeLorean que o levaria de volta no tempo, quando acaba lembrando do Plutônio extra, necessário ter consigo para a viagem de volta. Não há tempo suficiente para pegá-lo: logo as luzes de um carro em rápida aproximação se acendem, e o riso em seu rosto dá lugar ao mais puro pavor. “Eles me encontraram! Não sei como, mas me encontraram! Corra, Marty!”. “Quem?”, pergunta o jovem, sem compreender. “Quem você acha? Os líbios!”. Instantes depois, não tendo conseguido fazer sua arma funcionar, Brown para de mãos ao alto, claramente indefeso, heroicamente atraindo o fogo para longe do amigo, e é acertado a queima roupa pela metralhadora que um homem, traços árabes e olhar feroz, segura pelo teto da Kombi. Nada de mais por aqui, não é mesmo? Em nenhum momento a aparição dos perseguidores parece estranha: afinal, é meio óbvio que são terroristas querendo de volta o elemento radioativo para preparar sua bomba. Pensando na narrativa, falta algo que obrigue o jovem herói a fugir, e nada tão simples e aceitável quanto árabes com armas grandes e caras más. Certo? Infelizmente, sim. Há anos o estereótipo de muçulmanos como vilões está consolidado em Hollywood, a tal ponto que não paramos para questionar sua aparição em um filme de ficção científica de temática em nada conectada a quaisquer elementos que sequer remetam ao povo em questão – no caso de “De Volta para o Futuro”, filme que contém o trecho acima, “os líbios!”. É uma solução prática, e suficientemente difundida para que não se questione sua validade. E o cinema não tem exclusividade; as mídias mais diversas, de livros a videogames, de quadrinhos a séries de TV, árabes provavelmente perdem apenas para nazistas o