Resenha Crítica
Resenha crítica sobre o videodocumentário Nascidos em Bordeis
Roberta Letícia Pereira Marques1
A produção, a disseminação e a fruição estética na sociedade contemporânea são caracterizadas pela má distribuição dos bens culturais, ou seja, a “partilha do sensível” é desigual. Para o filósofo Jacques Rancière (1995), o sensível2 – seja material ou imaterial – é criado e empregado por todos os grupos sociais, entretanto, a maneira como ocorre essa divisão do sensível dentro da sociedade é caracterizada como irregular. Deste modo, há grupos sociais que não tem acesso a determinadas formas do sensível, ou ainda, têm suas expressões culturais julgadas inválidas ou inferiores.
Rancière (2002) ainda difere dois termos correlacionados, a saber, “Política da
Estética” e “Estética da Política”. O primeiro se refere ao modo como o estatuto vigente das artes interfere na divisão do sensível quando separa “espaços e tempos, sujeitos e objetos, o comum e o particular” (RANCIÈRE, 2002, p.3). Já o segundo, “Estética da Política”, trata do processo de geração de dissenso3, que dá lugar à reorganização da divisão do sensível e permite uma redistribuição mais equilibrada, de modo que quem não tenha voz possa se expressar e se fazer ouvir. Enquanto estratégia, a geração de dissenso conduz à emancipação dos sujeitos.
O videodocumentário intitulado “Nascidos em Bordeis” – Born Into Brothels:
Calcutta's Red Light Kids – é um exemplo desse processo de emancipação dos sujeitos a que se refere Rancière, uma vez que apresenta o cotidiano dos filhos de prostitutas, moradores do bairro da Luz Vermelha da cidade de Calcutá - Índia, a partir das imagens fotográficas produzidas pelas próprias crianças. Inicialmente, o projeto da fotógrafa norte-americana Zana
Briski, era viver durante um período do ano de 1997 com as mulheres moradoras da zona de prostituição e documentar suas vidas através da fotografia. Entretanto, o interesse primeiramente focado nas