resenha critica
A revista americana Fortune publicou uma reportagem alarmante sobre o clima interno nas fabricas de Detroit, até então, inexpugnável cidadela da indústria automobilística americana: em dez anos, os índices de absenteísmo haviam duplicado na Ford e na General Motors - e nesta, nada menos do que 5% dos empregados faltavam diariamente ao trabalho. Na Chrysler, quase metade dos trabalhadores abandonava o emprego antes de completar 90 dias de admissão. Sem a espetacularidade das greves, mas talvez mais grave porque continuada, essa forma de protesto individual tinha endereço certo, evidenciando uma clara contestação ao sistema tradicional de organização do trabalho, à rigidez disciplinar, aos ritmos estafantes e à monotonia do dia-a-dia nas linhas de montagem. As perdas em termos de produção, qualidade e competitividade tornaram-se preocupantes. Sobretudo quando se sabia que do outro lado do Pacífico, nas montadoras japonesas, ocorria exatamente o inverso - uma relativa estabilidade social e integração operária-empresa que acabou lhes permitindo, dez anos depois, um ousado assalto ao mercado mundial. Com 11 milhões de automóveis produzidos, as fábricas japonesas sobrepujaram a hegemonia dos Estados Unidos, até então os maiores fabricantes de automóveis do mundo. Nos Estados Unidos e Japão, e mais nos países ricos do que nos subdesenvolvidos - uma nova organização do trabalho nas fábricas passou a ser uma questão crucial. É certo que a indústria automobilística, pelas próprias características de seu processo de produção (a linha de montagem), pode ser considerada um ponto de exacerbação dos conflitos. Mas eles não se restringem apenas a esse ramo e revelam um reclamo generalizado por soluções mais avançadas de democracia industrial - capazes de atender, a um só tempo, aos interesses dos trabalhadores em obter maior satisfação e participação em suas atividades, e das empresas em conseguir deles um maior envolvimento e