Reprimarização da Economia
Alberson da Silva Miranda
A economia brasileira segue em vigorosa trajetória de reprimarização desde a segunda metade da década de 1990 sem mostrar sinais de reversão dessa tendência.
Tomando como ponto de partida a década de 1980, a indústria brasileira mostrava crescente participação nos valores da balança comercial e evolução sólida de seus preços. No comércio internacional, se mostrava clara a mudança no padrão brasileiro — em dez anos houve redução de 17,30 pontos percentuais na participação de produtos intensivos em recursos naturais (Gonçalves, 2000). Esse processo, desde que associado ao progresso tecnológico, é conhecidamente um dos responsáveis pelo desenvolvimento econômico — como visto em autores como Kaldor e Romer — ao incrementar de forma mais eficiente, dado seus rendimentos crescentes de escala, a produtividade, emprego e, conseqüentemente, a renda per capita. Dotada dessas características, a economia brasileira estaria no caminho para criar condições de alcançar e se estabelecer de forma sustentada entre os países desenvolvidos. Entretanto, essa tendência não se manteve.
A partir de segunda metade da década de 1990, esses indicadores começam a se deteriorar, e a participação de produtos intensivos em recursos naturais na pauta brasileira se torna crescente.
Tendo como prioridade o combate à inflação, no período entre 1994-1998 o governo brasileiro se utiliza da âncora cambial como instrumento de manutenção da taxa de câmbio em níveis reduzidos1. Essa política, apesar de ter se mostrado eficaz em frente ao seu objetivo proposto, é danosa ao processo de industrialização, que necessita de taxas de câmbio compatíveis com a forma em que seus produtos se encontram inseridos no mercado internacional, de forma a mantê-los competitivos. Com uma sobre-apreciação acima desse patamar, a indústria é desincentivada, mas, até certo limite, mantém a rentabilidade dos setores de