Repercussãoo de Casa Grande Senzala

A repercussão de Casa Grande & Senzala: o embate através de seus prefácios

No artigo “A construção sociológica de uma posição regionalista: Reflexões sobre a edição e recepção de Casa-grande & senzala de Gilberto Freyre*”, Gustavo Sorá se propõe a realizar uma interpretação das disputas classificatórias estabelecidas em torno da recepção de Casa Grande & Senzala entre a 1ª e 14ª edições do livro em português, recuperando representações do autor e julgamentos chaves na definição dos sentidos que pesaram sobre este livro. Seus seguidos prefácios apontam indícios sobre um conjunto de transformações nas matrizes de classificação do livro. Tenta demonstrar assim, como a representação regionalista que pesa sobre o livro e seu autor foi e é um produto das relações de dominação travadas no campo intelectual no Brasil a partir dos anos 30.
Desde o lançamento do livro no Rio de Janeiro, em 1933, até sua 14ª edição, em 1966, Freyre viveu intensamente as mudanças classificatórias às quais era arrastado seu livro à luz dos renovados juízos críticos de novos leitores que se interpunham em seu caminho. Ora contra literatos, ora contra “sociólogos profissionais”, escreveu seguidos prefácios que atualizavam as normas de compreensão de sua obra que, a cada edição, tornavam-se mais independentes de suas forças, recolocando Casa-grande & senzala como aposta de valores diferentes em um mesmo jogo.
Esses embates comumente se davam com representantes de uma primeira geração de sociólogos brasileiros da USP, em ascensão a partir da década de 50, dos quais dialogaram diretamente: Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso (prefácio a 48ª edição, 2003), Antônio Candido (Entrevista a Heloísa Pontes, 1987). Para esses sociólogos, somente em São Paulo se davam as condições para a superação do modo “ensaístico” de interpretação do Brasil, cujo último produto, “perigosamente” revalidado com um estrondoso sucesso internacional, era Casa-grande & senzala. Somente nesta cidade estavam dadas