Repensar a política de trabalho
“Muluki a pfumala lihlelo” (a pessoa que faz cestos não tem peneira), “Muvatli a nga na xitulu” (o escultor não tem cadeira), diz-se em xangan. Um dos maiores empreendimentos económicos do País está orçado em mais de 2 bilhões de dólares americanos. Emprega cerca de 200 pessoas, um terço ou mesmo metade das quais são estrangeiras. Muito pouco. O jornal Zambeze publicou no início deste ano uma reportagem que dava conta da pobreza em que viviam os habitantes duma ilha em Inhambane que conseguiu atrair duas grandes instâncias turísticas. Um refresco custava quase 30 mil meticais e uma média de cerveja 75 mil. Não tem posto de saúde, a escola está mal apetrechada, as pessoas vegetam. Os investimentos pioraram a situação das populações.
Estamos sentados sobre riquezas, mas passamos mal. Somos como os profissionais aludidos pelos ditados xangan acima mencionamos.
Um outro ditado xangan diz que quanto maior for a área da machamba cultivada, maior será a superfície por sachar. Em Moçambique há uma atitude algo curiosa de partir do princípio de que o único que é necessário para que o País se desenvolva é simplesmente atrair o investimento estrangeiro. Tudo o resto se seguirá. Basta um grande projecto aqui, um investimento acolá para que, magicamente, as condições de vida da população melhorem substancialmente. Não é uma atitude generalizada, tanto mais que as pessoas que procuram atrair o investimento parece terem consciência de que o trabalho não termina com a assinatura do acordo de investimento, mas sim começa justamente aí. Atrair investimentos é, acima de tudo, atrair trabalho.
Porque é que somos incapazes de tirar proveito dos investimentos? E porque é que poucos se preocupam publicamente com o facto de grandes projetos orçados em milhões de dólares trazerem tão pouco ao homem da rua? Porque não existe entre nós o hábito – porque não, a cultura – de medir a utilidade dum investimento não só pelos lucros que são transferidos