Relação entre força e poder
“Foucault fala que na sociedade capitalista urbano-industrial, que vai até mais ou menos os anos 1960/70, o tipo de poder é disciplinar. Segundo ele, a sociedade que liberta o escravo, que fala em democracia, a tal da sociedade do contrato, é a sociedade onde esse poder disciplinar, que é invisível, sofisticado, que passa pelas coisas, nos captura, daí a ideia de instituições de sequestro. Ele diz que esse poder está na estruturação do espaço, na organização do espaço”, explica a professora titular do Departamento de História da Universidade de Campinas (Unicamp), Luzia Margareth Rago.
A escola e o convento, aos olhos do filósofo, seriam típicas instituições de sequestro. A forma com que os espaços são construídos serve para disciplinar, de forma sutil, por vezes invisível Embora as crianças e os jovens frequentem a escola com o intuito de aprendizagem, eles, na verdade, estariam sofrendo o “sequestro” de seus corpos. Lá, os indivíduos aprendem a ficar horas sentados, passivos, aprendendo como devem se comportar em sociedade e, até, os desejos que lhes são permitidos ter.
“Foucault acha que a prisão é a materialização máxima daquilo que nós vivemos no cotidiano. Por que a prisão fez sucesso como forma punitiva em relação a outras práticas possíveis? Porque ela materializa o que nós vivemos no cotidiano: a escola é uma prisão, a fábrica é uma prisão, o escritório é uma prisão, a identidade é uma prisão. Não sabemos viver em liberdade, porque temos uma sociedade onde as normas foram muito difundidas”, diz Rago.
Mas não são apenas os lugares que produzem corpos dóceis, expressão que o filosofo usava para pessoas politicamente obedientes e produtivas. O discurso também funciona como tecnologia de poder, muitas vezes amparado em discursos