Relat Rio Civil VIII
Carlos V. Estevão
Professor da Universidade do Minho, Braga, Portugal
RELATÓRIO
Nossos tempos são tempos excessivos, com superabundância de acontecimentos e de espaços, que deixam pouca margem de pensamento e reconhecimento do outro. É uma sociedade de sensações onde o espaço emocional é agora o espaço por excelência, substituindo o espaço da confrontação ideológica e da racionalidade. O que interessa é o novo, o conflitual, o escandaloso. Vivemos, pois, num mundo já interpretado dado pelos meios de comunicação que dizem como deve ser nossa realidade.
A era dos mercados ou da globalização neoliberal também se dá ao nível do conhecimento, este agora se preocupa com o objeto, com a ordem; ele é, sobretudo, mercadoria. A fragmentação do conhecimento em geral fragiliza a eficiência e desloca os objetivos das políticas públicas. O cidadão não é mais sujeito de direito e sim um mero “cliente” das políticas públicas. Todos os indivíduos são apenas produtores e consumidores. Nesta sociedade composta de indivíduos que agem como mercadorias vivas, a política, a civilidade e as relações afetivas são meros espasmos do mercado. Afinal, como poderia ser diferente se todos se definem, exclusivamente, por suas atividades e virtudes econômicas?
A ditadura econômica promovida pela corrida ao crescimento e ao desenvolvimento tem impedido também que o homem esteja no centro dessas políticas, perpetuando estados de misérias e caos social. É a sociedade do Homo Oeconomicus (homem econômico), cujas ações regem-se pelas leis do mercado e pelo pensamento cartesiano. Essa sociedade se orienta pelas esferas da legalidade, da moralidade e de todas as lutas em favor da sobrevivência. O processo de fragmentação do conhecimento, legitimado pelas políticas públicas, engendram-se nessa sociedade moral que não favorece a ética. Há, portanto, necessidade da ressurreição da ética para a construção de uma sociedade formada pelo