Regionalidade, regionalismo, regionalização
Por sua proximidade semântica, estes três termos podem ser facilmente confundidos. Em especial, isto tem acontecido com as palavras regionalidade e regionalismo.
Ao menos no campo da literatura brasileira, o conceito de regionalismo tem sido utilizado para identificar e descrever todas as relações do fato literário com uma dada região. Penso que este significado deve ser reservado para o conceito de regionalidade. O regionalismo pode ser identificado como uma espécie particular de relações de regionalidade: aquelas em que o objetivo é o de criar um espaço – simbólico, bem entendido – com base no critério da exclusão, ou pelo menos da exclusividade. Esse critério se manifesta, no caso da produção literária, pelo uso de um dialeto, quando não de uma língua, de estrita circulação interna. E também não é por acaso que todos os regionalismos – não só os literários – se apóiam fortemente na defesa de uma língua própria, como no fenômeno, conhecido entre nós, do talian. A força simbólica da língua funciona como uma bandeira hasteada.
A regionalização é um conceito de outra ordem. Ela é na realidade um programa de ação voltado para o estabelecimento ou o reforço de relações concretas e formais dentro de um espaço que vai sendo delimitado pela própria rede de relações operativas que vai sendo estabelecida. Ela é portanto, antes de mais nada, uma estratégia que necessita desenvolver seus próprios instrumentos de gestão, de acordo com um programa político. Se o programa for regionalista, a regionalização tenderá a ser restritiva e excludente. Se ele levar em conta que as relações de regionalidade não são as únicas a serem levadas em conta, também no plano da ação, ele tenderá a ser aberto e abrangente.