Regimes autoritários no Brasil republicano
Carlos Fico
Membros da Comissão Julgadora:
O refinamento da historiografia brasileira nos últimos 30 anos tem permitido um entendimento mais sofisticado de alguns dos temas mais controvertidos da História do Brasil. Esse é o caso do Estado
Novo e do período dos governos militares, regimes autoritários do Brasil Republicano que ocuparam quase 1/3 da história brasileira no século XX, cuja comparação desejo propor neste momento. Alguns dos aspectos do regime militar que tenho estudado, como a propaganda política, a censura, a repressão e os próprios militares ganham um alcance maior quando comparados com seus correlatos no Estado Novo, razão pela qual me parece oportuna essa comparação.
Certamente não quero sugerir que haja uma identidade entre os dois momentos, pois são flagrantes as especificidades daquelas conjunturas históricas tão distintas, marcadas, uma, pela realidade quente da II Guerra Mundial – episódio-chave do século XX – e a outra pela dramaticidade “teatral” da Guerra Fria, que, além do front europeu, passou a ter um palco secundário na América Latina a partir da Revolução Cubana.
Afora isso, temos as singularidades internas, as etapas históricas tão diferentes da Era Vargas, nos anos 1930 – com o sempre lembrado processo de construção institucional e o lançamento das bases da industrialização brasileira –, e do regime militar, que aprofundou algumas das opções do Estado
Novo, mas durou quase três vezes mais e, na medida em que foi muito mais repressivo, demandou uma transição para a democracia que se estendeu por muitos anos.
Apesar de tais diferenças, parece-me útil a comparação. Não apenas porque o Estado Novo e o regime militar sejam os momentos culminantes daquilo que Francisco Iglésias designou como
“melancólica trajetória nacional brasileira” – por causa da supressão da liberdade, dos direitos políticos –,1 mas também porque a análise de ambos os processos históricos nos desafia