Reforma protestante e suas consequencias
No fim da Idade Média, a corrupção generalizada do clero e sua incapacidade de responder às expectativas dos fiéis abalaram profundamente a credibilidade do catolicismo. Os padres eram ridicularizados e sua autoridade passou a ser questionada por Séverine Fargette, medievalista
Na Renascença, a unidade religiosa da cristandade ocidental foi pelos ares. A Igreja romana não respondia mais, ou respondia muito mal, às novas expectativas dos fiéis. Cenas práticas, tais como a compra de indulgências para abreviar a estada no purgatório, chocavam profundamente os leigos. O mesmo acontecia com o comportamento dos clérigos, muitos deles grosseiros, libeninos e ignorantes.
O cura desempenhava um papel essencial na vida dos paroquianos, a quem administrava os sacramentos (do batismo à extrema-unção) e deveria orientar para a vida espiritual. Mas essa função pastoral, muito exigente, encontrava-se de fato nos homens que constituíam nos séculos XIV e XV os grandes batalhões do clero secular? Os documentos dos arquivos dos tribunais eclesiásticos fazem duvidar disso.
Os homens de Deus respeitavam pouco o voto de castidade. Embora desde o século XI a Igreja ocidental condenasse o casamento e o concubinato dos padres (Nicolaísmo - ver glossário), as transgressões se perpetuavam, por vezes aliadas a outros pecados. Em 1395, o padre Étienne Merceron matou um homem, após ter-lhe roubado a soma de sete francos e meio. Preso, confessou viver de rapinas e morar em concubinato com uma mulher casada, com quem já havia tido quatro filhos.
A venda dos sacramentos (simonia) era o que mais chocava. Inúmeras vezes condenada, essa prática persistia no século XV. Os eclesiásticos, que às vezes haviam pagado caro por sua ordenação, buscavam depois valer-se das somas gordas que os paroquianos tinham de pagar para que o padre celebrasse um batismo ou um casamento. Reprovava-se também a ignorância dos padres, alguns deles incapazes de