Redação
Em uma manhã de sábado, fria e chuvosa, numa cidadezinha pequena do interior de São Paulo, estava eu, Laércio, mais conhecido como Cicinho, trabalhando em minha pequena e velha quitanda, que já passara por duas gerações de minha família. O lugar era pequeno, mais ajeitadinho. Procurava sempre manter a boa aparência do lugar para chamar atenção da freguesia. O fato de a cidade ser pequena me levava a ficar o dia inteiro, só observando o vai-e-vem das pessoas, até que alguém, finalmente, precisasse comprar algo ou apenas fosse lá para papear. Aos quarenta e dois anos de idade, a única coisa que eu fazia da vida era trabalhar ali. Algum dia pretendia voltar para Minas Gerais, mas com aquelas condições financeiras, o momento não seria aquele. Posso dizer que tinha a vida mansa, porém, com algumas dívidas. Foi neste dia que encontrei a solução para metade dos problemas. Já estava quase indo embora, quando chegou um bom e velho amigo, o compadre Abílio, que era amigo de infância. Tinha muita confiança naquele rapaz. E naquele dia, Abílio trazia consigo uma proposta. ─ Tarde Cumpade! – Cumprimentou Abílio. ─ Tarde Cumpade Abílio! A que devo a honra da sua visita? Veio comprar alguma fruta pra Madalena? ─ Não, não... Vim pra conversar cocê mesmo. ─ Ara! Então sente aí sô! – puxando a cadeira para o amigo, Cicinho se empolgara. ─ Então Cumpade, tenho aqui uma proposta irrecusável, e vejo que o amigo carece muito. – Disse Abílio, se ajeitando. ─ E o que o amigo tem aí? ─ Bem, observo a um tempo que ocê se encontra numa situação delicada em relação às dívidas da quitanda. E como bom amigo que sou, quero propor que façamos uma troca. Cicinho o olhava sem entender. ─ Uma troca? ─ Exatamente. Venda-me a quitanda, eu assumo as dívidas, ocê pega seus lucros e fica com um rádio meu. ─ Rádio?! Pra modo de quê eu preciso de rádio sô? ─ Ah, mas é um rádio bonito, muderno, de qualidade. Vale muito! – Disse Abílio empolgado. ─ Mais Cumpade,