Redação - Crônica

Um Jovem Vagabundo

Ouço o som do abrir das cortinas, sinto o vento arrastando meus lençóis e a luz do dia invadindo meu quarto, não me lembro de ter voltado pra casa na noite passada. De qualquer modo, me levanto e visto minha camisa, é estranho o modo que a penduram ao lado da cama toda manhã. Custo a manter meus olhos abertos e minha cabeça lateja como se tivesse apanhado com um martelo. Vejo no relógio que são dez da manhã, deve ser segunda-feira. Calça jeans, minha camisa branca de botão, chinelos e estou pronto, não vejo motivos de por sapatos se não vou a lugar algum às segundas. Sinto o cheiro do café da manhã, ovos, bacon, um como com água e meus remédios é o que encontro na mesa de jantar, onde está aquela empregada? Termino de comer e vejo o calendário ao meu lado, é quarta-feia, e estou atrasado pra minha entrevista de emprego. Saio com pressa e a manutenção do elevador só piora as coisas, desço pelas escadas e pego o primeiro táxi livre. Demora cerca de meia hora pra chegar ao local. Dou a desculpa do trânsito pro meu atraso passar despercebido, mas é muito convincente quando se vai de chinelos à uma entrevista de emprego. Saio de lá com a ideia concreta de que não fui aceito. Mais meia hora pra voltar para casa, isso sem contar os quinze minutos que parei pra comprar comida no caminho, aqueles ovos não foram suficientes. Chego em casa e vejo que o elevador não está mais em manutenção, penso: "Por que comigo, Deus?" Subo até meu apartamento, deixo o que comprei na cozinha e observo ocopo com água e meus remédios na mesa de jantar, eu havia me esquecido deles. Como e vejo t.v. até ser noite novamente, tomo banho, coloco minha camisa pra lavar e vou pra cama. Ainda não me lembro como vim pra casa, não me dou ao trabalho de lembrar, ao menos estou em casa. Só espero me lembrar dos remédios amanhã.

Sara Castanhas