redaçao
Eu sabia que era preciso ser realista. Que tudo que começa termina, mesmo que demore. Que muito tempo às vezes parece ser pra sempre, mas que pra sempre é muito tempo pra se medir ou prever. Sabia que felicidade pode ser superficial, mas que tristeza é sempre profunda. Que sonhar é bom, mas que uma hora a gente acorda. E que se almas gêmeas existissem, elas seriam irmãs, e isso seria incesto. Eu sabia que verdades tem prazos de validade. E o amor também.
Eu sabia. Mas com ele eu desaprendi tudo que eu sabia para aprender coisas novas. Aprendi que quando se ama, seu eu todo fica lírico, e toda poesia fala um pouco de você. E que muito tempo na verdade é uma utopia: todo tempo é sempre curto demais para realizar tantos planos guardados no travesseiro. Porque amar é fazer planos. Pra amanhã, pro ano que vem ou pra próxima encarnação - a gente quer sempre adivinhar como vai ser. Mas só se for pra ser bom.
É que eu também aprendi que perdoar é mais fácil quando a saudade aperta, e que a gente se arrepende até do que não fez pra ser perdoado mais rápido. Aprendi que a memória de quem ama é seletiva, e que as boas lembranças são sempre o melhor refúgio para os momentos difíceis. As almas não precisam ser gêmeas no final das contas, porque as diferenças tornam tudo mais interessante, e as semelhanças são deliciosas de se descobrir. Aprendi que mentiras são ótimos placebos pra quando a verdade fere. Afinal - eu aprendi - não é preciso ser tão realista assim.
Crime perfeito
Não há palavras para definir o que eu estou sentindo agora. Não é tristeza, porque a tristeza é conformista, mas também não chega a ser raiva. É uma revolta contra ninguém, porque não existem culpados. Em um crime só de vítimas, nem a vingança consola, mas permanece comigo a sensação egoísta de que alguém deveria ser punido por essa ausência que me dói tão fundo.
[entre colchetes]
Eu estou ótima [mas as vezes me bate uma vontade tão grande de ser dona da