Receita de mulher
inicius
de
moraes
rejceita m u 1 h er
homenagem ao poeta 2° aniversario do atelier 415
Falcon Press de Philadelphia de quem utilizamos nesta edifao uma experiencia de photo-offset-lithography. impresso pelo
Grafico Amador
Recife, outubro de 1957
L
As muito feias que me perdoem
Mas beleza e fundamental.
E' preciso
Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Qualquer coisa de danga, qualquer coisa de haute couture Em tudo isso (ou e:ttäo
Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na Repüblica Populär
Chinesa).
Näo ha meio termo possivel. E' preciso
Que tudo isso seja belo. E' preciso que, subito
Tenha-se a impressäo de ver uma garga apenas pousada, e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor so encontrdvel no terceiro minuto da aurora.
E' preciso que tudo isso seja sem ser, mas que ss reflita e desabrocbe
No olhar dos homens. E preciso, e absolutamente preciso
Que seja tudo belo e inesperado. E' preciso que umas pdlpebras cerradas.
Lembrem um verso de Eluard, e que se acaricie nuns bragos
Alguma coisa alem da carne: que se os toque
Como ao ämbar de uma tarde. Ah deixai-me dizer-vos
Que e preciso que a mulher que ali estd, como a corola ante o pdssaro
Seja bela, ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo, e
Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nzivem
Com olbos e nddegas. Nddegas e importantissimo. Olhos, entäo
Nem se fala, que olhem com certa maldade inocente. Uma boca
Fresca (nunca ümida!), mövel, acordada, e tam~ bem de extrsma pertinencia. E'preciso que as extremidades sejam magras, que uns ossos
Despontem, sobretudo a rötula no cruzar das pernas, e as pontas pelvicas
No enlagar de uma cintura semovente. Gravissimo e, porem, o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras E' como um rio sem pontes.
Indispensdvel
Que haja uma hipötese de barriguinha, e em seguida A mulher se alteie em cdlice, e que seus seios