Ratzel
A relação entre o solo e o Estado - Capítulo I
O Estado como organismo ligado ao solo [p. 59]
Friedrich Ratzel
Tradução de Matheus Pfrimer*
1. 1 O Estado na geografia e a concepção biogeográfica de Estado. A vida da humanidade sobre a terra se assemelha à de um ser vivo: ela avança, recua, se retrai, engendra novas relações, desfaz os antigos laços; tudo isso segundo imagens que parecem àquelas que são apresentadas pelas outras espécies animais. Imagens como: maré humana, onda humana, ilha humana, ilha política, istmo político, deixam-no entender. Mas, ao utilizálas, não se pensa no sentido profundo que podem ter estas expressões. Para a biogeografia, elas não são imagens.
Há espaços vitais, ilhas de vida, etc. A biogeografia concebe o Estado como forma de extensão da vida sobre a superfície da terra. O Estado sofre as mesmas influências que qualquer vida. As leis de extensão dos homens sobre a terra determinam a extensão dos seus Estados. Quase não se viu a criação de
Estados nas regiões polares ou nos desertos, eles continuam a ser pequenos nas regiões tropicais, nas florestas virgens e nas grandes montanhas.
Os Estados estenderam-se progressivamente com as espécies humanas; cresceram em número e dimensão com a população. As fronteiras não devem ser concebidas diferentemente do que como a expressão de um movimento orgânico e inorgânico; as formações estatais elementares assemelham-se evidentemente a um tecido celular: em todo lugar se reconhece a semelhança das formas de vida que emergem da ligação com o solo. Para todos, liquens, corais ou homens, esta relação é uma propriedade da vida, porque a condiciona. [p. 60] O solo favorece ou impede o crescimento dos Estados, como favorece ou impede o movimento dos indivíduos e das famílias. Daí a influência da
água sobre o desenvolvimento estatal: os Estados que se estendem naturalmente sobre as margens dos rios ou as costas, prosperam onde a natureza