Rapha
Desesperados vamos pelos caminhos desertos
Sem lágrimas nos olhos
Desesperados buscamos constelações no céu enorme
E em tudo, a escuridão.
Quem nos levará à claridade
Quem nos arrancará da visão a treva imóvel
E falará da aurora prometida?
Procuramos em vão na multidão que segue
Um olhar que encoraje nosso olhar
Mas todos procuramos olhos esperançosos
E ninguém os encontra.
Aos que vêm a nós cheios de angústia
Mostramos a chaga interior sangrando angústias
E eles lá se vão sofrendo mais.
Aos que vamos em busca de alegria
Mostramos a tristeza de nós mesmos
E eles sofrem, que eles são os infelizes
Que eles são os sem-consolo...
Quando virá o fim da noite
Para as almas que sofrem no silêncio?
Por que roubar assim a claridade
Aos pássaros da luz?
Por que fechar assim o espaço eterno
Às águias gigantescas?
Por que encadear assim à terra
Espíritos que são do imensamente alto?
Ei-la que vai, a procissão das almas
Sem gritos, sem prantos, cheia do silêncio do sofrimento
Andando pela infinita planície que leva ao desconhecido
As bocas dolorosas não cantam
Porque os olhos parados não vêem.
Tudo neles é a paralisação da dor no paroxismo
Tudo neles é a negação do anjo... ...são os Inconsoláveis.
– Águias acorrentadas pelos pés.
Aqui o poeta chama as pessoas que se deixam levar pelo movimento uniforme da massa são tratados como “os sem-consolo”. E assim como a multidão de Baudelaire, eles também passam inertes uns aos outros, versos 26/7/8. O narrador desta multidão pode ser visto como o flâneur, que procura, sem alcançar seu objetivo, um olhar que lhe alimente a esperança.
Nos versos “Ei-la que vai, a procissão das almas/ Sem gritos, sem prantos, cheia do silêncio do sofrimento”, há mais uma demonstração da prostração das pessoas da multidão, que apesar de possuírem sentimentos, não compartilham umas com as outras suas angústias, e passam sem gritos, sem se relacionarem de alguma maneira.
Por fim, chega-se a figura