Lendo o Livro Percebi a análise do processo de constituição da educação física em seu primeiro berço europeu e sua introdução no Brasil, realizada mediante as percepções das teorias científicas e das necessidades de implantação do capitalismo, estabelece-se como o campo de preocupações da autora. Em tal empreendimento, Carmen Soares mostra-nos possibilidades de compreender os caminhos que a educação física percorreu ao longo destes últimos séculos e como, nesta trajetória, pôde constituir-se como uma panacéia, com modos de tratamento dos corpos individual e social, necessária para disseminação desta lógica econômico-social. A autora leva-nos a perceber que a ascensão de um certo trato com o corpo, de uma série de tecnologias corporais que vemos ser amplamente difundidas na atualidade, em muito estão próximas daqueles fundamentos reducionistas de corpo estruturados no século XIX, auxiliando-nos a compreender o presente, feito que só uma boa historiografia é capaz de conseguir. Ela aborda com extrema sensibilidade, sem perder o rigor no uso das fontes, a forma como o campo biomédico foi tornando saúde e doença conceitos fragmentados e reduzidos ao bom ou mau funcionamento orgânico, a tal ponto que a doença parece ter se tornado uma coisa-em-si, independente do doente, podendo ser localizada de forma precisa em um determinado ponto do corpo para, então, ser extraída como se fosse uma entidade com vida própria. Ao abordar diretamente a educação física brasileira, Carmen fala-nos do processo de disseminação de sua prática nos espaços escolares. Desfilam aos nossos olhos, a partir de suas palavras, imagens de crianças de “berço dourado” a Rev. Bras. Cienc. Esporte, v. 23, n. 1, p. 147-149, set. 2001 149 correr, pular, saltitar, jogar, expressando uma determinada posição social; concomitantemente, vemos esta prática social ser transformada em instrumento de controle da massa trabalhadora (o povo)! Como num filme, linguagem cara à autora, cenas apresentam a