Raflaconzinho

Atualmente, o uso das redes sociais é quase intrínseco à realidade de muitos indivíduos. Nesses espaços, há possibilidade, por meio de fóruns de discussão, comunidades e blogs relacionados a tudo o que tange a produção cultural (música, cinema, televisão etc.), de o internauta relacionar-se com os que compartilham interesses comuns e tecer sua própria rede de gostos.
Todavia, não se pode pensar que a formação do “repertório de interesses” é algo meramente arbitrário. Muito do gosto individual é influenciado por taxações as quais afirmam o que é bom ou ruim. Essas influências partem da classe dominante, cujo status e prestígio regem não só a cultura, mas também todas as relações sociais; assim, ocorre a prática da distinção e da legitimação dos produtos culturais.
Como a construção identitária está fortemente relacionada à teia de interesses culturais, a “qualificação” dos mesmos torna-se uma grande preocupação, visto que aqueles acarretam valores sociais e distinções. Nesse sentido, quem foge daquilo que é considerado legítimo, isto é, ouve ou vê conteúdos relacionados à cultura de massa e popular, busca meios de “assumir” o gosto utilizando práticas discursivas como “e daí?”, “pronto, falei!” e “confesso!”, sobretudo nas redes sociais.
Esses mecanismos são analisados no artigo “’E daí? ’, ‘pronto, falei! ’, ’confesso’: artimanhas discursivas de qualificação e desqualificação do gosto e da distinção” de Ana Lucia Enne (2011). A autora estuda tais estratégias discursivas através de exemplos retirados do Orkut e de fóruns de debate; nos discursos, observa-se que o uso dessas expressões explicita o consumo do que não se aproxima do status quo e permite que as pessoas desviem da legitimação cultural sem que sejam vistas como ignorantes por acessaram algo desqualificado socialmente, ou seja, indica que elas têm conhecimento acerca dos valores agregados ao que consomem.
Além disso, as expressões são fundamentais para analisar a dominação de classes de uma maneira geral,