Racismo e teorias raciais no século XIX: Principais noções e balanço historiográfico
O surgimento do racismo científico no século XIX e seus respectivos desdobramentos na política e na sociedade do período tem sido assunto amplamente debatido entre os historiadores, sociólogos e antropólogos. Sobrepondo-se aos dogmas religiosos reinantes até então, as teorias raciais deram status científico às desigualdades entre os seres humanos e através do conceito de raça puderam classificar a humanidade, fazendo uso de sofisticadas taxonomias.
No Brasil, o tema raça é constantemente revisitado, sobretudo quando se trata de questões como o mito da democracia racial, as desigualdades entre negros e brancos e o recente debate em torno das cotas raciais nas universidades públicas. Diante disto, o presente artigo tem por objetivo elaborar um panorama geral sobre as teorias raciais ao longo do século XIX na Europa e no Brasil, tendo como base alguns dos principais trabalhos historiográficos sobre o assunto. Tal iniciativa justifica-se pela necessidade encontrada por graduandos e pós-graduandos , assim como pelo público fora dos círculos acadêmicos, de encontrar sínteses sobre o assunto, que apontem leituras e informem sobre os principais rumos e tendências das discussões.
As doutrinas raciais européias:
O historiador russo Léon Poliakov, ao analisar o mito ariano sob uma ótica de longa duração[2], percebeu que as bases do arianismo já se encontravam na Europa desde a Idade Média. O autor destaca a importância dos mitos de origem nas sociedades européias, que, no século XIX, combinado com as teorias raciais, ditas científicas, deram a sustentação ideológica para o surgimento do mito ariano, que, mais tarde, estaria no cerne do discurso hitlerista. Esses mitos de fundação das nações traziam em seu interior exclusões que, apesar de não se basearem em diferenças físicas, buscavam segregar determinados grupos de indivíduos. Foi o caso, por exemplo, da Espanha, onde a