Questa o social
Carlos Lessa
Quando uma sociedade se pergunta qual é o seu "projeto nacional", ela está a meio caminho de formular um. Só faz esse tipo de pergunta uma sociedade que se reconhece insatisfeita com a organização econômica e social que a caracteriza e que a condiciona, e que efetivamente já começou, não necessariamente no campo teórico, mas pela prática, o movimento de sua superação. É muito claro que estamos neste momento. O MST e outros movimentos populares brasileiros começaram a fazer o esboço de nosso "projeto nacional" diante do absoluto fracasso, em termos de interesses das massas, do modelo de subdesenvolvimento que nos tem sido imposto dos anos 80 para cá pelas elites brasileiras, serviçais e cúmplices das elites financeiras internacionais.
Se me perguntarem, pois, qual é o "projeto nacional" que nos convém como povo, serei tentado a dizer: É o projeto que o MST e outras entidades da sociedade civil brasileira estão construindo, a partir de seus interesses objetivos. De fato, há muito tempo perdi as esperanças de que as elites brasileiras viessem liderar um "projeto nacional" que conjugasse seus interesses com os interesses do povo. Não. As elites dominantes brasileiras, e muito particularmente as elites financeiras, só vêem o Brasil como um território de caça e de pilhagem. Elas se recusaram o papel clássico das burguesias em outros projetos nacionais, capitulando a uma espécie de ânsia de internacionalização e globalização.
O fato é que temos duas nações, no Brasil, uma real e outra aparente. A nação aparente é a nação dos poderosos e dos ricos. Ela está enlaçada em interesses financeiros globalizantes. Seu objetivo maior é a estabilidade monetária aqui dentro, à custa de uma moeda dos ricos remunerada a taxas escorchantes, para que possam continuar dolarizando tranqüilamente sua renda e seu patrimônio. As conseqüências sociais internas desse modelo são ignoradas. Temos a maior crise social de nossa