Quem conta um conto... aumenta, diminui, modifica.
O ditado popular que nos serve de mote para o título, apesar da referência à transmissão oral da literatura, é bem adequado para caracterizar o processo utilizado por Monteiro Lobato na escrita de seus contos: o escritor (quem conta um conto) produz diversas alterações em sua obra (altera vários pontos) a cada nova versão publicada. É a partir dessa constatação que este trabalho — que tem por objetivo realizar a análise de uma fase do processo de escrita dos contos lobatianos — se justifica e pode existir.
Os contos lobatianos não têm tido um lugar privilegiado nos estudos acerca do escritor. De um modo geral, Lobato é conhecido por sua obra infantil e pelas querelas com os modernistas. Não pretendemos fazer uma análise de nenhum destes dois aspectos, ainda que o segundo mereça uma ou outra referência indireta nas páginas que se seguem.
Há uma anedota interessante acerca da Semana de Arte de 1922. Diz-se que Villa Lobos apresentar-se-ia no Teatro Municipal em meio ao barulho da platéia, inconformada com as modernidades a que já haviam assistido. Quando o compositor sentou-se ao piano, a platéia nervosa percebeu que, apesar do traje apropriado, ele estava usando chinelos. “Achava-se ele na ocasião atacado de ácido úrico nos pés e tendo um deles enfaixado, apoiado em um guarda-chuva, entrou em cena”, conta a violinista Paulina d’Ambrósio.” Vaias e mais vaias impediram que sua música fosse ouvida. E o músico foi, como os outros, rotulado como modernista. Modernistas talvez fossem seus chinelos, que tentavam minimizar o incômodo inoportuno.
Acredito que muitos lugares comuns acerca da obra lobatiana poderiam ser destruídos se ouvíssemos sua música antes de olharmos para os seus chinelos. À tentativa de revisitar a obra lobatiana, que vem merecendo estudos mais apurados nos últimos anos, acrescentamos estas páginas. Não verificaremos quanto de modernidade existe em Lobato, nem pensaremos na obra adulta como