"Quebra de Xangô": a questão do outro e violência simbólica
“Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar”.
Bertold Brecht
Introdução
O presente artigo pretende analisar os conceitos trabalhados na disciplina de Sociologia Jurídica II, em especial, o conceito de violência simbólica elaborado por Pierre Bourdieu, em ‘O poder simbólico’ e a questão do ‘outro’ tratada na obra de Leopoldo Zea, ‘ Discurso desde a marginalização e a barbárie’. Nesse sentido, os referidos conceitos serão articulados com a questão da intolerância religiosa, utilizando-se como ilustração a ‘Operação Xangô’, movimento de perseguição religiosa aos cultos afro-brasileiros, ocorrido em 1912, em Maceió. Para tanto, será usado o trabalho etnográfico realizado por Ulisses Neves Rafael, “‘Xangô rezado baixo’: um estudo das perseguições aos terreiros de Alagoas em 1912”. Assim, no primeiro tópico, analisar-se-á os estudos de Pierre Bourdieu, que auxiliam a analisar o mundo a partir de relações dialéticas e do modo como essas relações se reproduzem, a partir de práticas de dominação que existem e persistem independentes das consciências ou das vontades individuais.
Nesse sentido, propõe-se analisar os conceitos de poder simbólico e de violência simbólica, que se referem a um tipo de poder/violência velada, ideológica, que tem como propósito a indução de valores de uma classe social sobre outra; é um poder que tem pouca visibilidade, mas que ocupa praticamente todos os espaços, que se faz de forma dissimulada e se naturaliza nas relações sociais.
Além disso, no segundo tópico será trabalhada a questão do ‘outro’, estudada por Leopoldo Zea(2005), que apresenta como o ser humano, ao