Psilocibe Cubensis

4959 palavras 20 páginas
A pesquisa do inconsciente no século dos alucinógenos1

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Rafael Domingues Adaime

“Deixando na casa de Ícaro, antes de desaparecer, e talvez sem ter sido reconhecido, um bacelo com o qual, havia prometido ao dono da casa, horticultor de profissão, seria produzida uma bebida incomum, se seus conselhos fossem seguidos. (...) Ícaro convida os vizinhos para provar o vinho novo. Bebem, ficam maravilhados com o líquido perfumado; logo se entoam louvores ao fruto da mãe selvagem. De repente, um dos que bebem cai para trás, outro desaba, a embriaguez faz os mais robustos vacilarem. E aqueles que ainda estão de pé começam a clamar por matança e envenenamento. Atiram-se a Ícaro, agridem-no selvagemente.
Seu corpo mutilado é atirado ao fundo de um poço. Sua filha
Erígone se enforca; a cadela Maíra se suicida e a terra é atingida por terrível esterilidade. (...) Cabe aos homens experimentar o vinho puro, a bebida que queima como cem fogos, que verte a morte gelada como o sangue do touro oferecido nos ordálios. Na época de Ícaro, o vinho aparece primeiro como veneno violento; e Dioniso, que saiu de cena, deixa aos homens o cuidado de descobrir o poder do vinho e do deus que o habita.”
Marcel Detienne

Utilizados numa infinidade de culturas e épocas, os alucinógenos muito recentemente retornaram ao cenário da vida urbana. Flutuantes são eles na história, como um pêndulo sem eixo, girando em golpes velozes. Tão fundamentais como os alimentos, a guerra e a caça, tiveram suas propriedades exploradas pelos sábios feiticeiros da antiguidade. Seu espécime de alta potência mais comum e cosmopolita, o cogumelo3, estava presente no território religioso, mágico, festivo e medicinal de sociedades situadas em todos os continentes de nosso planeta. Entre os astecas era chamado teonanacatl, a carne de Deus; muito respeitado por suas virtudes de violenta intensidade, tinha seus mais nobres segredos guardados pelos feiticeiros. Após a dominação européia na

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