Psicologia
Suely Rolnik 2
"Cidadania" tem sido uma palavra-chave do discurso que se reivindica como democrático. Colocar a alteridade à sombra da cidadania pode soar estranho, já que a idéia de cidadania está imediatamente associada a reconhecimento e respeito pelo outro, pelo menos no que se refere a direitos civis. A democracia se define exatamente como um regime no qual a soberania pertence ao conjunto dos cidadãos - que, em princípio, são todos os membros de uma sociedade: todos considerados indivíduos, iguais em seus direitos perante a lei, independentemente de classe, cor, sexo ou religião.
Estamos tão habituados a considerar que o alvo por excelência de uma vontade política de melhorar a qualidade da existência individual e coletiva é a conquista da democracia (e, implicitamente, do estatuto de cidadão para todos), que é difícil pensar que tal melhora possa implicar algo mais do que esse tipo de conquista, sobretudo num país como o nosso, distante ainda até desse "mínimo".
No entanto, não podemos deixar de constatar que, mesmo nos países
"polìticamente corretos" nesse aspecto - ou seja, países em que o direito de cidadania está assegurado senão para todos, pelo menos para a grande maioria
(refiro-me a alguns dos países do chamado "Norte") -, a conquista referida não assegurou uma qualidade de vida individual e coletiva satisfatória. Que se pense, por exemplo, nos problemas apontados por movimentos ecológicos no que diz respeito ao meio ambiente físico, e que podem ser estendidos ao meio ambiente social e subjetivo.
Os impasses em que atualmente se encontra o planeta nos forçam a repensar o que quer dizer melhorar a qualidade da existência individual e coletiva.
Se estar interessado por esse tipo de coisa é um tipo de atitude que se costuma chamar de "progressista", o que precisamos repensar é o sentido dessa palavra na atualidade, para além do polìticamente