PSICOLOGIA
No seu texto “The location of cultural experience”, do livro Playing and Reality (Winnicott 1971a), Winnicott começa com uma epígrafe de Tagore, que diz: “Crianças brincam nas costas do mar de mundos sem fim” (ibid, p. 95). Logo em seguida, comenta:
Quando me tornei um freudiano, eu sabia o que isso significava. O mar e a costa representavam intercursos sem fim entre o homem e a mulher, e a criança emergia dessa união, para ter um breve momento antes de se tornar adulto e genitor. Então, como um estudante do simbolismo do inconsciente, eu sabia (sempre se sabe) que o mar é a mãe e que é sobre a costa que a criança nasce. Bebês saem do mar e são cuspidos sobre a terra, como Jonas da baleia. Aí então, a costa era o corpo da mãe, após o nascimento do bebê e a mãe e o bebê, agora viável, começavam a se conhecer. (ibid, pp. 95-6, a tradução é minha)
A continuação do texto é de fundamental importância, porque é nela que Winnicott anuncia aquela que seria a sua guinada fundamental. Acompanhemos, então, as suas palavras:
Então, eu comecei a ver que aí se emprega uma concepção sofisticada da relação pais-infante, e que pode haver um ponto de vista infantil não-sofisticado (an unsophisticated infantile point of view), diferente daquele da mãe ou do observador externo, e que esse ponto de vista infantil (this infant’s viewpoint) pode ser examinado de forma proveitosa. (ibid, p. 96, a tradução é minha)
Podemos dizer que está aí expressa a perspectiva assumida pela teorização winnicottiana: o ponto de vista do bebê, diferente daquele da mãe ou do observador externo.
Dou um exemplo: quando vemos um bebezinho sugando o dedo e inferimos que ele busca obter prazer por meio da alucinação do seio ausente da mãe, estamos interpretando o acontecimento como um observador externo. Ou seja, interpretamos essa busca de prazer baseados no prazer que nós, adultos, podemos sentir ao sugar o dedo. Toda a teorização freudiana termodinâmica - ligada ao