Psicologia e modernidade: marcas de um percurso
Para compreendermos as noções de homem transmitidas pela psicologia e a própria prática psicológica, é necessário um breve retorno ao momento de constituição desta disciplina enquanto ciência.
O cenário de aparecimento da psicologia (meados do século XIX) estava dominado pelo ideal positivista de ciência proposto por Auguste Comte (1798-1857), que se ocupava da descoberta de leis invariáveis que ordenavam os fenômenos e opunha-se a qualquer tipo de especulação metafísica. As investigações deveriam estar submetidas ao controle experimental e os fatos compreendidos sob um ponto de vista analítico (Japiassu, 1995).
Os critérios que delineavam o caráter científico das produções diziam respeito a retirada do sujeito da investigação através do método, da padronização e da instrumentalização das formas de abordar a realidade. As disciplinas que aspiravam reconhecimento científico deveriam adotar o modelo das ciências naturais. A psicologia encontrava-se no seu início, ainda relacionada com a filosofia e portanto, considerada uma matéria reflexiva, marginal dentro do território que ia se concretizando com a hegemonia do ideal positivista de ciência. Entretanto, neste período, já havia estudiosos interessados em produzir uma psicologia científica, com o auxílio da fisiologia ou mesmo da matemática. Tais pensadores antecederam Wundt (1832-1920), considerado pai da psicologia moderna.
Filósofo e matemático, Herbart (1776-1841) tentou aplicar a matemática ao estudo da vida psíquica com o objetivo de representar os processos mentais sob a forma de modelos formais. Afirmava a possibilidade de uma psicologia matemática baseada nos princípios da física clássica. Weber (1795-1878), fisiólogo e anatomista, dedicou-se aos estudos sobre as sensações tatéis e visuais, nos quais obteve medidas precisas relativas à diferenças na intensidade objetiva de um estímulo e a sensação percebida destas diferenças, ultrapassando o domínio