Psicologia social crítica: como prática de libertação
Aspectos clínicos da depressão
i
A DEfinição DE DEPrESSão
1
PArAdoxos dA dePressão
Um dia talvez a depressão venha a ser compreendida em termos de seus paradoxos. Existe, por exemplo, um contraste impressionante entre a imagem que a pessoa deprimida tem de si mesma e os fatos objetivos. Uma mulher rica lamenta-se por não ter recursos financeiros para alimentar seus filhos. Um ator de cinema amplamente reconhecido implora por uma cirurgia plástica por acreditar-se feio. Uma física eminente repreende-se “por ser burra”. Apesar do sofrimento vivenciado em decorrência dessas ideias autodepreciativas, os pacientes não são facilmente demovidos por evidências objetivas ou por demonstrações lógicas da natureza insensata desses pensamentos. Além disso, os pacientes com frequência praticam atos que parecem aumentar seu sofrimento. O homem abastado veste andrajos e humilha-se publicamente implorando por dinheiro para sustentar a si e sua família. Um clérigo com uma reputação impecável tenta se enforcar porque se diz “o pior pecador do mundo”. Um cientista cujo trabalho foi confirmado por numerosos investigadores independentes “confessa” publicamente que suas descobertas eram uma farsa. Atitudes e comportamentos como esses são muito intrigantes – superficialmente, ao menos –, pois parecem contradizer alguns dos axiomas mais fortemente estabelecidos da natureza humana. De acordo com o “princípio do prazer”, os pacientes deveriam
buscar maximizar as satisfações e minimizar a dor. Segundo este há muito respeitado conceito de instinto de autopreservação, esses indivíduos deveriam tentar prolongar a vida, e não terminar com ela. Ainda que a depressão (ou melancolia) seja reconhecida como uma síndrome clínica há mais de 2 mil anos, até hoje não foi encontrada uma explicação plenamente satisfatória de suas características intrigantes e paradoxais. Ainda existem importantes questões não resolvidas sobre sua natureza, classificação e etiologia. Entre essas