Psicologia Cl Nica E Tica
Francisco Martins
Psicólogo, Psiquiatra, Doutor em Psicologia, Professor do Departamento de Psicologia Clínica, Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília
Este tema ocupa, certamente, pouco espaço nos compêndios de Psicologia. Ele é mesmo, volta e meia, alienado da formação do estudante, passando a ser visto como pertencente ao campo das idéias filosóficas, como algo que não tem interesse prático ou até mesmo científico. Isto tudo como se a ciência excluísse a filosofia ou como se a prática de todos os dias fosse feita de um saber puramente ideal, asseptizado da vida cotidiana. O objetivo da nossa apresentação será, então, mostrar a íntima relação existente entre a fundação da Psicologia Clínica, assim como da sua práxis, com aquele domínio que em Filosofia é chamado de Ética. Neste sentido, tentaremos muito mais articular setores diversos do conhecimento do que separá-los em compartimentos estanques. Enfatizamos inicialmente o termo psicologia clínica, posto que esta palavra nos envia a uma dimensão única na prática do psicólogo — aquela que tem de levar em conta a existência do outro. Como veremos, esta dimensão ética é tão essencial que pode mesmo vir a escapar das exigências da cientificidade clássica que persegue, por exemplo, um controle rígido e absoluto de variáveis. Assim, o propósito maior deste texto é mostrar justamente a imbricação de ordem de fundação primeira existente entre a Ética e a Psicologia Clínica, e não fazer uma recapitulação de todos os princípios normativos existentes no Código de Ética. Uma tal recapitulação nos levaria mais a questões de cunho moral que propriamente a questões éticas e, assim, estaríamos fugindo ao nosso escopo originário. Da distinção entre Ética e Moral
Esta distinção está mais baseada em critérios de ordem filosófica do que em critérios semânticos, uma vez que, como se sabe,