Prova Escrivao 2003
Desejo, consumo e responsabilidade
Mary del Priore
“Mamãe, eu quero!” foi o ________ de uma deliciosa marchinha de Carnaval, conhecida de todos nós. Mas a mesma frase, dita na fila do supermercado, entre gritos histéricos e ameaças de choro infantil, dá-nos o que pensar. Nossas crianças vivem cercadas de objetos e mensagens publicitárias que as _______ a não deixar um mundo em que toda a forma de querer é voltada à satisfação imediata. Sim, sabemos que elas são o maior alvo da publicidade na televisão, publicidade que insiste em pintar-lhes um mundo de consumo; mas sabemos também que os adultos são os maiores exemplos. E que exemplos! Uma criança, sem interferência dos pais, aprende, pela vitrine que é a “telinha”, uma série de coisas.
Ela aprende, por exemplo, que a alegria está num produto, que o sonho está no consumo de marcas, que o prazer é um direito fundamental do ser humano e que o querer é a única lei. Ela aprende também que a abundância de coisas é um dado natural e gratuito do processo técnico e que tudo pode ser imediatamente encontrado no shopping mais próximo. Enfim, ela registra que pode encontrar a felicidade consumindo. Ela subordina o sentido de sua vida às finalidades da sociedade de consumo; seu desejo se desdobra no querer de múltiplos bens, de imagens a consumir.
Viver assim, como bem diz um sociólogo, é “lamber os beiços diante de uma existência açucarada”. Essa visão de um mundo cheio de prazeres e poderes concorre, contudo, com a experiência da realidade. Realidade logicamente insatisfatória se comparada às maravilhas da _______ prometida. Em relação ao sonho publicitário, o conto de fadas tem pelo menos duas vantagens: ele comporta realidades cruéis que fazem com que o princípio de realidade não seja esquecido, e propõe uma história imaginada, e a criança sabe que se trata de imaginação. O sonho publicitário, ao contrário, tudo promete – pela compra ou pelo