Projeto de Pesquisa
Estudo da rede de saúde mental de uma cidade da Baixada Fluminense: uma interlocução entre saúde mental, saúde coletiva e psicopatologia psicanalítica
I. Introdução
Desde o final da década de 1970, a sociedade brasileira vem acompanhando o
Movimento da Reforma Psiquiátrica (RP), cujas conquistas o levaram, a partir do início dos anos 2000, à condição de política de Estado. Amarante (2007) enfatiza que a RP deve ser concebida como um processo social complexo que possui diferentes dimensões: social, política, jurídica, epistemológica e técnica-assistencial. Sendo processual, é contínuo e necessita de constante avaliação. No mesmo sentido, Furtado e Onocko Campos (2005) comentam que a institucionalização da Reforma Psiquiátrica garante alguns recursos para a estruturação de programas e serviços alinhados à proposta de desinstitucionalização do louco e da loucura, mas, por outro lado, nos ameaça de perder a dimensão instituinte do Movimento, ou seja, sua potência em questionar as instituições e instaurar o novo. Além disso, os autores apontam o risco de que a regularização dos novos serviços desobrigue a sociedade de repensar a relação estabelecida com a doença mental ao longo dos últimos dois séculos, ao privilegiar a adaptação ao meio e o apagamento do sujeito.
Uma das possibilidades de enfrentamento desses riscos é o diálogo entre a saúde mental (que diz respeito às ações políticas e eticamente orientadas, referidas à singularidade de certo grupo, cujos traços comuns são a loucura e a exclusão) e a clínica, que trabalha com o caso tomado em sua singularidade. A clínica vem nos dizer que existe um sujeito no indivíduo que está no mundo, enquanto que a saúde mental nos indica as determinações sociais, políticas e ideológicas que envolvem esse mesmo mundo. O grande desafio é considerar o sujeito do direito e o sujeito do inconsciente, evitando a prática de uma saúde mental ortopédica ou de uma clínica alienada e pouco cidadã (Furtado e Oncocko Campos,
2005).
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