Primavera silenciosa
A função do olho humano na óptica do final do século xvi
Claudemir Roque Tossato
resumo
Neste artigo, trato em linhas gerais do papel do olho humano no desenvolvimento das teorias ópticas no período que vai da Grécia antiga até o final do século xvi. São destacados dois grandes momentos da história da óptica: a antiguidade e o século xiii. Procuro levantar alguns dos principais pontos relativos à importância do olho humano no ato da visão, relacionando esses pontos a três tradições de pesquisa que serviram como base para a elaboração de teorias ópticas, a primeira filosófica, a segunda anatômica e a terceira matemática. A intenção é mapear a situação da óptica no que concerne à função do olho humano antes dos trabalhos revolucionários de Kepler nessa área no início do século xvii.
Palavras-chave ● Óptica. Visão. Câmara escura. Anatomia. Perspectiva. Euclides. Alhazen. Kepler.
Introdução
O objetivo central deste texto é apresentar os principais aspectos do papel do olho humano, seu funcionamento e sua importância, para a ciência da óptica no final do século xvi e início do século xvii.1 A apresentação se restringe ao modo pelo qual se entendia
1 A história da óptica dos gregos antigos até o início do século xvii é muito complexa. Não iremos reproduzi-la, por exceder em muito os objetivos deste artigo. Salientamos apenas os aspectos centrais, sem detalhar os argumentos, acerca do problema de como se produz a visão e a relação entre anatomia, filosofia e matemática. Para o leitor interessado na história da óptica até o início do século xvii, sugerimos em especial três autores, Crombie, Lindberg e Ronchi. Lindberg (1976) é uma história da óptica desse período com boa apresentação e com um enfoque interpretativo das três tradições de pesquisa, filosófica, médica e matemática, surgidas na Grécia antiga; em Lindberg (1971), há uma apresentação de Al-Kind; em Lindberg (1967), é analisada a recepção e a