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Acidentes de trabalho
DINHEIRO
COM GOSTO
DE SANGUE
Érico Verissimo
travessou o pátio interno da fábrica. Os grandes pavilhões de concreto pareciam estremecer ao ritmo das máquinas. Eugênio ouviu aquela pulsação surda que lhe sugeria o bater dum enorme coração subterrâneo. Ela lhe dava uma vaga angústia, causava-lhe um indefinível temor: dir-se-ia a aflição dum homem que sente no subsolo o agitar-se duma subumanidade que trabalha com silêncio seus propósitos de destruição. O atroar das máquinas era um ruído ameaçador.
O escritório lhe pareceu mais frio e convencional que nos outros dias. Sentou-se à mesa, abriu uma das gavetas, remexeu nos papéis... Não encontrando os que procurava, chamou a secretária, uma rapariga magra de ar cansado.
– Boa tarde, D. Ilsa. Alguém me procurou?
– Não senhor, ninguém.
– Onde estão aquelas folhas que vão para o Ministério do Trabalho?
– Na gaveta do centro.
Tornou a abrir a gaveta e encontrou os papéis.
– Tem razão, cá estão eles.
Pô-los em cima da mesa, tomou da caneta.
– A senhora anda muito pálida e com jeito de cansada.
Por que não tira umas férias?
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Segurança e Saúde no Trabalho
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Assinava os papéis automaticamente, sem revisá-los.
Sentia agora um interesse fraternal pela secretária. A criatura tinha um jeito encolhido de passarito doente.
– E a dor nas costas... ainda não passou?
– Às vezes, quando me deito, ela vem.
– Deve ser da posição em que fica quando escreve à máquina. Precisa cuidar-se, D. Jisa.
A moça sorria, meio constrangida.
Eugênio se perguntava a si mesmo o que era que de repente o fazia assim tão solícito, tão atencioso, como um irmão mais velho. concluiu que era porque tinha pena da moça: pena de todos os que sofriam. Por um breve instante se sentiu reconciliado consigo mesmo. Entretanto seu eu puro e implacável lhe cochichou que se ele