presente de grego
A história é velha. Os gregos tentavam, anos e anos, invadir Troia. Sem sucesso, surgiu a ideia de deixar às portas da muralha inimiga um enorme cavalo de madeira, como se fosse um presente, e simular a retirada. Agradecidos, os troianos levaram o cavalo para dentro e cantaram vitória, mas, à noite, os soldados gregos, escondidos, saem do interior do animal, matam os poucos guardas troianos, abrem os portões da cidade e o exército heleno entra e arrasa a cidade. Surgiu assim a expressão "presente de grego", como sinônimo de presente indesejável, cilada, armadilha. Essa passagem pode ser lendária, mas a verdade histórica nos ensina que dos gregos recebemos presentes reais, de valor inestimável, como as epopeias de Homero, as sementes da democracia, o gênio filosófico de Sócrates, Platão e Aristóteles, a belíssima Vênus de Milo, o majestoso Partenon de Atenas, as tragédias clássicas de Ésquilo, Sófocles e Eurípedes, sem nos darmos conta de que a própria base do nosso alfabeto é grega e se encontra lá no país do Zorba, a nascente preciosa de milhares de palavras do nosso vocabulário. Fico aqui com esse último presente, despretensioso, porque que não exige viagens nem livros e nem dinheiro para admirá-lo, mas é insubstituível. Há um número considerável de vocábulos com raízes helênicas no linguajar cotidiano de qualquer brasileiro. Por amor à brevidade, destaco, hoje, apenas dois: diabo e diabete. Como logo se vê, citar essa dupla pode surpreender, mas são palavras meio aparentadas, pelo prefixo grego diá, que significa por meio de, através, entre. Elas começam iguaisinhas, para se diferenciarem totalmente no final. Comecemos pelo pior, o diabo. Deus nos acuda, cruz credo, mas ele aparece muitas vezes na prosa das pessoas, sem se saber que diabo em grego é diábolos, e esse "bolos" vem de um verbo grego que significa lançar. Então, diabo é, literalmente, o que lança (o mal) entre as pessoas, o que