Pre Classicas
Comentar texto de José das Candeias Sales, As Divindades Egípcias. Uma chave para a compreensão do Egipto antigo, Lisboa, Editorial estampa, 1999, p. 374
A realeza egípcia, cuja figura central era obviamente o Faraó, aparece na história baseada nos pressupostos de proteção e genealogia divinas. Rei absoluto, a segurança, a justiça e a prosperidade social e económica existiam e mantinham-se em função dele – o soberano cujo carisma se baseava no laço existente entre ele próprio e os governantes máximos do universo, os deuses.
Por sua vez, a base social no Egipto era a família monogâmica. Embora a concubinagem fosse uma prática socialmente aceite, nem mesmo o Faraó, filho do grande deus Sol, podia ter mais que uma esposa legal. Mulher que, para que não se contaminasse o sangue divino, era por norma uma parente próxima, normalmente sua irmã filha de mãe diferente.
O trono estava permanentemente ocupado por alguém do agrado divino, mesmo que esse alguém fosse de origem estrangeira. A este governante máximo tudo pertencia, considerado um deus, tinha a autoridade máxima e a posse das terras e suas riquezas, os impostos e até as próprias pessoas. Era este ser divino que centralizava tudo e todas as estruturas religiosas, sociais, económicas que mantinham o equilíbrio do reino. Era o administrador máximo, o chefe do exército, o primeiro magistrado e o sacerdote supremo.
Além de todas estas funções, o deus Faraó, o qual aos olhos da razão não era mais do que um ser humano como todos os seus súbditos, tinha por isso, em termos práticos, as limitações terrenas de qualquer mortal, fossem elas resultantes das suas funções político / administrativas ou de ordem pessoal. Compreensível, uma vez que ao longo da história sempre existiram as invejas, as intrigas e os conselheiros de conselhos sempre muito pessoais e interesseiros. É por isso que, apesar de toda a divinização atribuída ao rei, a perceção das suas limitações humanas não deixava de estar