PORTUGUES
ODE NO CINQUENTENÁRIO DO POETA BRASILEIRO
Esse incessante morrer que nos teus versos encontro é tua vida, poeta, e por ele te comunicas com o mundo em que te esvais.
Debruço-me em teus poemas e nelo percebo as ilhas em que nem tu nem nós habitamos
(ou jamais habitaremos!) e nessas ilhas me banho num sol que não é dos trópicos, numa água que não é das fontes mas que ambos refletem a imagem de um mundo amoroso e patético.
Tua violenta ternura, tua infinita polícia, tua trágica existência no entanto sem nenhum sulco exterior – salvo tuas rugas, tua gravidade simples, a acidez e o carinho simples que desbordam em teus retratos, que capturo em teus poemas, são razões por que te amamos e por que nos fazes sofrer…
Certamente não sabias que nos fazes sofrer.
É didícil explicar esse sofrimento seco, sem qualquer lágrima de amor, sentiment de homens juntos, que se comunicam sem gesto e sem palavras se invadem, se aproximam, se compreendem e se calam sem orgulho.
Não é o canto da andorinha, debruçada nos telhados da Lapa, anunciando que a tua vida passou à toa, à toa.
Não é o médico mandando exclusivamente tocar um tango argentino, diante da escavação no pulmão esquerdo e do pulmão direito infiltrado.
Não são os carvoeirinhos raquíticos voltando encarapitados nos burros velhos.
Não são os mortos do recife dormindo profundamente na noite.
Nem é tua vida, nem a vida do major veterano da guerra do Paraguai, a de Bentinho Jararaca ou a de Christina Georgina Rossetti: és tu mesmo, é tua poesia, tua pungengente, inefável poesia, ferindo as almas, fogo celeste, ao visitá-las; é o fenômeno poético, de que te constituíste o misterioso portador e que vem trazer-nos na aurora o sopro quente dos mundos, das armadas exuberantes e das situaçãoes exemplares que não suspeitávamos.
Por isso sofremos: pela mensagem que nos confias entre ônibus, abafada pelo pregão dos jornais e mil