Portugues - poemas romantismo
Não sabes, Clara, que pena eu teria se — morena tu fosses em vez de clara!
Talvez... quem sabe... não digo... mas refletindo comigo talvez nem tanto te amara!
A tua cor é mimosa, brilha mais da face a rosa tem mais graça a boca breve.
O teu sorriso é delírio...
És alva da cor do lírio, és clara da cor da neve!
A morena é predileta, mas a clara é do poeta: assim se pintam arcanjos.
Qualquer, encantos encerra, mas a morena é da terra enquanto a clara é dos anjos!
Mulher morena é ardente: prende o amante demente nos fios do seu cabelo;
— A clara é sempre mais fria, mas dá-me licença um dia que eu vou arder no teu gelo!
A cor morena é bonita, mas nada, nada te imita nem mesmo sequer de leve.
— O teu sorriso é delírio...
És alva da cor do lírio, és clara da cor da neve!
Autor: Casimiro de Abreu
Soneto
"Pálida à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!
Era a virgem do mar, na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d'alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!
Era mais bela! o seio palpitando
Negros olhos as pálpebras abrindo
Formas nuas no leito resvalando
Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti - as noites eu velei chorando,
Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!"
(Álvares de Azevedo)
Sonhando
Na praia deserta que a lua branqueia
Que mimo! Que rosa, que filha de Deus!
Tão pálida - ao vê-la meu ser devaneia,
Sufoco nos lábios os hálitos meus!
Não corras na areia,
Não corras assim!
Donzela, onde vais?
Tem pena de mim!
A praia é tão longe! E a onda bravia
As roupas de goza te molha de escuma
De noite - aos serenos - a areia é tão fria,
Tão úmido o vento que os ares perfuma!
És tão doentia!
Não corras assim!
Donzela, onde vais?
Tem pena de mim!
A brisa teus negros cabelos soltou,
O orvalho da face te esfria o suor;
Teus seios palpitam - a