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A BANALIDADE DO MAL
"Há alguns anos, em um relato sobre o julgamento de Eichmann em Jerusalém, mencionei a 'banalidade do mal'. Por mais monstruosos que fossem os atos, o agente não era nem monstruoso nem demoníaco; a única característica específica que se podia detectar em seu passado, bem como em seu comportamento durante o julgamento e o inquérito policial que o precedeu, afigurava-se como algo totalmente negativo: não se tratava de estupidez, mas de uma curiosa e bastante autêntica incapacidade de pensar".

A BANALIDADE DO MAL

O mal sempre constituiu um desafio à filosofia, chegando, muitas vezes, a ser considerado um enigma; por isso, tem correspondido a um convite a não ser pensado. Mas o fato de ignorá-lo, expurgá-lo do pensamento não o esconjura e nem o retira do universo dos problemas humanos. Por outro lado, é exatamente esse caráter enigmático do mal que pode representar uma provocação para que o pensemos melhor ou de forma diferente.
Para Ricoeur, o que fornece o caráter enigmático ao mal, pelo menos na tradição judaico-cristã do Ocidente, é a nossa tendência de colocar, numa primeira abordagem e num mesmo plano, fenômenos díspares como pecado, sofrimento e morte. De acordo com esse ponto de vista, a nossa proposta, neste trabalho, é dissociar a noção de mal da de pecado, de sofrimento e de morte. Tentaremos abordá-lo dentro da perspectiva da ação que nos conduz a uma abordagem da ética e da política, pois, sendo o mal, nessa perspectiva, sinônimo de violência, combatê-lo, por meio da ação ética e política, é diminuí-lo no mundo.
A experiência política do século XX revelou-nos o surgimento de uma nova modalidade de mal até então desconhecida. A emergência do fenômeno totalitário obrigou-nos a reavaliar a ação humana e a história, na medida em que esta revelou novas figurações do homem, inclusive em algumas de suas formas monstruosas. É, precisamente, no contexto da reflexão sobre a experiência das sociedades totalitárias do nosso século que

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