Portifolio
RESUMO. Este artigo objetiva analisar a origem do fe nômeno do abandono de crianças, bem como o impacto desse fenômeno nas relaçõe s que se instauram na sociedade contemporânea. Ao retomar algumas concepções teóricas construídas historicamente, o texto enfatiza as contribuições significativas e os pontos frágeis apresentados por essas concepções, que impossibilitam novos avanços para o debate em questão. Posteriormente, propõe uma (re) interpretação do fenômeno do abandono de crianças a partir do referencial teórico marxista. As análises evidenciam que sob o termo „criança abandonada‟ se esconde um enorme contingente de crianças que carecem das condi ções mínimas de sobrevivência e que, enquanto adultos, irão reproduzir a situação de rebaixamento ainda mais acentuado de suas condições econômicas, bem como a situação de não-reconhecimento social.
INTRODUÇÃO
Na sociedade brasileira atual, os dados sobre crianças que vivem em instituições de atendimento à infância são gritantes e atingem proporções cada vez maiores. O último l evantamento nacional, realizado pelo Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em 589 abrigos do País no ano de 2004, revelou que 80 mil crianças e adolescentes viviam nessas instituições, principalmente pela situação de miséria e pobreza extrema2. Embora a
Coordenadora desse estudo, Enid Rocha, reconheça que esse número atualmente está muito defasado, não há ainda pesquisas que informem dados mais recentes. Segundo Roberto de Oliveira, Professor e pesquisador da
Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, há apenas uma estimativa do número de crianças que vivem em instituições de atendimento à infância, cerca de 500 mil, uma vez que não se tem ideia do total de abrigos existentes no País. Por esse motivo, essa situação-problema tem sido não apenas assunto de destaque na imprensa falada e escrita do país e nos fóruns de discussões de grupos organizados da sociedade civil e