Porque, de Sophia de Mello Breyner Andresen
Sophia de Mello Breyner Andresen
Autora
Sophia de Mello Breyner Andresen, nasceu no Porto, a 6 de Novembro de 1919.
É filha de Maria Amélia de Mello
Breyner e de João Henrique
Andresen.
Foi uma das mais importantes poetisas portuguesas do século XX.
Foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o
Prémio Camões, em 1999.
Morreu a 2 de Julho de 2004, em
Lisboa, com 84 anos
Poema
Porque os outros se mascaram mas tu não.
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são túmulos caidos
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seu gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Leitura do texto
Este poema, de Sophia de Mello Breyner Andersen, denuncia as injustiças e desigualdades sociais.
O título “Porque” reforça, através da anáfora, a ideia desenvolvida ao longo do poema.
Ao longo do poema parece haver um diálogo entre o sujeito poético e um “tu”, que aparece no primeiro e último versos da primeira estrofe, assim como no último verso das estrofes seguintes.
O sujeito poético põe em evidência as virtudes e qualidades do outro, mostrando um verdadeiro sentimento de admiração o que nos leva a pensar poder tratar-se de um amigo íntimo.
Verifica-mos também uma atitude muito contrastante em relação aos outros e à pessoa amada, nomeadamente através da conjunção adversativa “mas”.
O sujeito poético denuncia a falsidade e a astúcia, logo é referido o receio que os outros têm em demonstrar o verdadeiro eu, ao contrário do “tu”.
Refere também que os outros são hipócritas ao oferecerem apenas a aparência. Na segunda estrofe é realçada a