por uma sociologia do desemprego
DESEMPREGO*
Nadya Araujo Guimarães
A reflexão que apresento a seguir resulta do interesse em enfrentar um desafio interpretativo, qual seja, o de entender os elos entre os fenômenos do emprego e do desemprego em contextos de intensa flexibilização do trabalho e de reconstrução institucional e normativa dos padrões de proteção ao trabalhador. Desenvolverei a minha argumentação em três direções.
Primeira: procurarei rastrear o movimento de re-significação que se opera em torno da noção de “desemprego”, perseguindo, com a literatura sociológica recente, a constituição (e legiti-
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Versão revista de comunicação apresentada ao
XXV Encontro Anual da Anpocs, Caxambu, 16-20 de outubro de 2001, Seminário Temático “Trabalhadores, Sindicatos e Nova Questão Social”, Sessão “Teorias e Configurações da Classe Trabalhadora Hoje”.
mação social) da nova figura do “desempregado de longa duração”.
Segunda: compararei os desenvolvimentos teóricos (voltados a entender este fenômeno) com os esforços empreendidos pela sociologia brasileira do trabalho no sentido de interpretar a problemática do desemprego, a partir da análise dos elos desse fenômeno com a natureza da organização social e com os padrões de desigualdade vigentes em nosso país.
Terceira: argumentarei em favor do valor heurístico de se recorrer a comparações contextualizadas – à luz de achados recentes relativos à fluidez entre fronteiras ocupacionais e ao trânsito entre situações no mercado de trabalho em outros países – com o intuito de discutir a validade de hipóteses desenvolvidas pela sociologia do desemprego (na Europa e, sobretudo, na França) para interpretarmos o caso brasileiro.
RBCS Vol. 17 no 50 outubro/2002
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REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 17 N 50
Da sociologia do trabalho à sociologia do emprego? Mudanças estruturais e resignificação de conceitos
A intensa reestruturação produtiva que se generalizou pelos países