Por Exemplo
Por exemplo, veja o vídeo abaixo. Entre 0:16 e 0:21 há uma troca de plano exatamente quando o ator senta ao piano. No entanto, se assistirmos com atenção, o primeiro plano termina quando ele coloca a mão direita sobre as teclas, e o segundo começa um pouco antes disso. Não era a intenção do diretor que isso ocorresse, mas são falhas que ocorrem quando se filma uma tomada por vez, dificultando o encaixe. Isso não atrapalha o desenvolvimento: por vezes esse tipo de coisa ocorre diante dos nossos olhos no cinema e na TV mas não nos damos conta, porque nos interessa o enredo:
O que aconteceu? O diretor suprimiu parte do rolo de filme de um mesmo plano, ou ao menos quis passar esta sensação. Isso rompe com a nossa lógica de linearidade temporal. Na troca de planos, acaba evidenciando que o tempo passou (imagem-tempo), e não tenta disfarçar isso, como no cinema clássico. Ele evidencia o método de montagem, faz ver o modo como o cinema é feito, como ele entra em choque com a nossa percepção. imagem-tempo é uma representação directa do tempo através de mecanismos cinematográficos concretos: o flash-back, o faux-raccord, a profundidade de campo, a dessincronização, não dizendo respeito à sucessão temporal horizontal das dimensões passado-presente-futuro, antes pelo contrário, dizendo respeito ao tempo não cronológico, subjectivo, de dimensões coexistentes. Ontologicamente, esta imagem é tempo puro, é a coalescência de passado, presente e futuro. É a propósito do filme Primavera tardia (1949) de Yasujiro Ozu que Deleuze introduz o conceito de imagem-tempo ou chronosigne (I.T.:27) para se referir a um tipo de imagem cinematográfica que arranca ao cliché, à imagem sensório-motora dos