Política externa e desenvolvimento no regime militar
Recentemente o presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que "era preciso encerrar a Era Vargas". O que ele quis afirmar com isso? Muitos consideraram que se referia ao autoritarismo, ao estatismo e ao corporativismo, sobretudo sindical, que caracterizaram a vida nacional desde então, inclusive no período militar. Contudo, considerando a concepção do governo atual, isto se refere ao modelo de desenvolvimento, em sentido integral. Assim, é preciso refletir sobre o mesmo, e descobrir o que nele desagrada aos neoliberais, sobretudo com relação ao regime militar.
Sintomaticamente, só se analisa o período 1964-85 quanto ao que ele tem, obviamente, de mais obscuro: a repressão e a política interna. Quanto à política externa e à economia, estabelece-se uma transposição mecânica dos aspectos político-repressivos internos para estes planos, distorcendo a realidade e mostrando a ditadura como meramente "entreguista". Contudo, minha pesquisa sobre a política externa do regime militar e sua relação com o desenvolvimento, a sair como livro este ano (e aqui apresentada resumidamente), aponta para a continuidade do projeto nacional-desenvolvimentista durante este período, apesar de sua inflexão conservadora.
Este projeto, cujas origens ideológico-estratégicas remontam ao movimento tenentista dos anos 20, foi impulsionado a partir dos anos 30 com Getúlio Vargas e, com avanços e recuos, prosseguiu durante o período populista entre 1945 e 1964 . Apesar do golpe de 1964 encerrar o ciclo nacional-desenvolvimentista do populismo, o processo de desenvolvimento industrial prosseguiu sob outras formas. A redemocratização, por sua vez, também não apresentou um ruptura significativa no modelo, o que só veio a ocorrer em 1990, com a adoção do projeto neoliberal na Era dos Fernandos, este sim descomprometido com o desenvolvimento nacional.
Nesta perspectiva, este artigo não se ocupará dos já conhecidos (mas nem sempre lembrados) atos